Estado de Minas IRREVERÊNCIA

A tradição dos desfiles de corsos

Edição mais moderna aconteceu até o ano passado, mas todo carnaval tem seu fim...


postado em 01/02/2016 10:00 / atualizado em 01/02/2016 11:03

Todo grande carnaval é feito de tradição. Algumas, contudo, perdem-se no tempo. Pouca gente sabe, mas nas décadas de 1960 e 1970 era comum que a elite pernambucana organizasse desfiles de carros abertos no período festivo. Pela manhã, o corso carnavalesco costumava cruzar as principais ruas do Recife rumo ao Centro da cidade. A brincadeira terminava em bailes em clubes tradicionais, como o Internacional.

 

Desfile de corso no Centro da cidade reunia multidão(foto: Arquivo/DP/D.A Press)
Desfile de corso no Centro da cidade reunia multidão (foto: Arquivo/DP/D.A Press)
 

 

Aos 65 anos de idade, a dona de casa Ana Campos nunca esqueceu a magia do corso. “Saí pela primeira vez aos 10 anos. A mãe de uma amiga organizava o desfile em um jipe. Levávamos depósitos de leite, água e trigo para sacudir nas pessoas. Usava-se lança perfume. Íamos de touca para não estragar o penteado para as festas que aconteciam depois”, sorri. O corso se foi, mas ficou a saudade dos carnavais do passado. “Era muito diferente. A cidade era bem enfeitada, os carros passavam devargazinho. O Recife era mais bonito, cheio de casarões e o rio limpo. As pessoas não andavam segurando a bolsa, com medo. Faziam amizade”.

 

Na época era permitido desfilar nas caçambar(foto: Arquivo/DP/D.A Press)
Na época era permitido desfilar nas caçambar (foto: Arquivo/DP/D.A Press)
 

 

O vice-presidente do Clube dos Automóveis Antigos de Pernambuco (Caape), Paulo Bompastor, recorda-se de ter saído nos corsos entre seus 15 e 20 anos de idade. “Meu primeiro desfile foi em um Renault Rabo 500 de quatro portas. Naquele tempo, o pessoal comprava jipes novos para os corsos. As preferências eram as picapes Willys e Chevrolet, além dos Ford F-1, F-100 e F-1000”, conta. A brincadeira, contudo, foi perdendo a graça. “Era uma festa inocente. Com o tempo, foi ficando maior, congestionando as ruas e aumentando a bebedeira. Os casos de violência também foram aumentando e acabando com a alegria”.

 

A batalha do talco fazia parte do trajeto e da tradição(foto: Arquivo/DP/D.A Press)
A batalha do talco fazia parte do trajeto e da tradição (foto: Arquivo/DP/D.A Press)
 

 

A nostalgia dos primeiros corsos fez com que o Caape, em parceria com o Clube Internacional, tentasse reorganizar os desfiles. “O corso vinha sendo feito por 16 anos, como uma prévia do Bal Masqué. Como o evento cresceu muito, ficou difícil fazer o percurso. Além disso, os automóveis antigos não estavam suportando o trajeto. Esse ano, não fizemos”, lamenta a diretora de marketing do Internacional, Jeseli Lacerda.

 

Avenida Conde da Boa Vista sempre na rota(foto: Arquivo/DP/D.A Press)
Avenida Conde da Boa Vista sempre na rota (foto: Arquivo/DP/D.A Press)
 

 

 

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação