Estado de Minas TECNOLOGIA

Apps melhoram a experiência no trânsito, mas o impacto deles é discutível

Tecnologia pode contribuir com viagens e também com o fluxo, porém o efeito é questionável


postado em 01/08/2017 11:40 / atualizado em 01/08/2017 12:04

Waze e o Google Maps podem reduzir congestionamentos(foto: João Velozo/Esp DP)
Waze e o Google Maps podem reduzir congestionamentos (foto: João Velozo/Esp DP)
Alguns aplicativos podem facilitar a vida no trânsito. Mas o impacto deles precisa ser pensado. Afinal, os deslocamentos nos centros urbanos dependem muito da infraestrutura fornecida. Iniciativas vêm sendo desenvolvidas para melhorar a experiência ao trafegar pela cidade. Laize de Souza, engenheira civil e mestra na área de Transportes e Gestão das Infraestruturas Urbanas afirma que o aplicativo Waze e o Google Maps podem dar rotas pelas condições de tráfego das vias urbanas e assim redirecionam o fluxo, o que ajuda a reduzir congestionamentos. “Eles auxiliam os usuários, mas não melhoram necessariamente o trânsito da cidade”, afirma a engenheira. Ainda, segundo ela, os aplicativos de carona podem melhorar, reduzindo o número
de veículos em circulação.

Para a especialista, o UberPool ou similares (ridesplitting services) funcionam como apps de carona, com motorista vinculado a uma empresa com fins lucrativos, ajuda na mobilidade se as pessoas migrarem do automóvel privado. “Mas em pesquisa feita recentemente, 47% dos usuários do Uber utilizariam táxi se não existisse a opção do app, e 30% usariam o transporte público”, ressalta. Ela acrescenta que se essa mesma tendência se repete no UberPool, não faz muito bem para a mobilidade porque estaria tirando uma boa parcela do coletivo público para o privado individual.

César Cavalcanti de Oliveira, arquiteto e urbanista, também acredita que esses aplicativos ajudam, mas não trazem um grande impacto na mobilidade urbana. Segundo ele, os apps devem ser expandidos porque trazem valor e mais habilidade para as pessoas se movimentarem de forma mais conveniente.

“No aspecto do tráfego, contribuem na rota mais rápida e livram de alguns congestionamentos. Em um futuro próximo, um número maior de aplicativos que permitam que seus usuários tenham um deslocamento facilitado vão surgir. Então, é uma questão de aprimorar os aplicativos existentes. Por exemplo, o Cittamobi poderia ser aprimorado e informar o tempo estimado de chegada do ônibus a sua parada final, se está lotado ou não, se tem ar-condicionado ou não”, sugere o urbanista.

O aplicativo de carona Bigu, desenvolvido por ex-estudantes e alunos da UFPE, é um desses apps que propõe ajudar na melhoria das condições do trânsito. Felipe Passos, engenheiro civil e participante do grupo que comanda o Bigu, acredita que a carona é uma solução viável para o enfrentamento das situações adversas do dia a dia do trânsito.

“As pessoas devem fazer sua parte para melhorar a mobilidade. Não é só questão da qualidade do transporte público, a consciência de que o carro pode ser compartilhado por mais pessoas ajudaria e muito o trânsito”, afirma Passos.

Ele e seus colegas estudaram a mobilidade urbana e aliado ao que verificavam na rotina diária, perceberam o uso de carros cada vez maior com menos ocupantes no interior deles. O objetivo deles foi ocupar mais esses carros e reduzir o número de veículos, inicialmente, para a UFPE. Hoje, eles pensam na aplicabilidade em todo

o Recife e com isso, melhorar todo o trânsito da capital pernambucana. A tarefa não é fácil e tem que se considerar que o problema estrutural da mobilidade urbana nos grandes centros urbanos brasileiros. “Todas essas tecnologias e esses aplicativos são bem vindos e vão aperfeiçoando, cobrindo lacunas de forma a contribuir com o sistema. Longe de serem uma medida estrutura. E não vamos achar que o sistema de transporte para a mobilidade urbana está resumido ao uso intensivo dessas tecnologias. Se você não tiver uma estrutura, um ordenamento, de calçadas, de ciclovias, vias rodoviárias hierarquizadas e sistemas de veículos leve sobre trilhos (VLTs), você não tem uma organização de mobilidade urbana”, afirma o professor Fernando Jordão, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPE.


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