Estado de Minas DUAS RODAS

Frota de motos em PE cresce 110% em dez anos

O número de motos representa quase a quantidade de carros registrados em Pernambuco, que aumentou 64% nesse mesmo período de 10 anos


postado em 31/07/2019 18:32

Foto: Leandro de Santana/ Esp. DP
Foto: Leandro de Santana/ Esp. DP
 
A data de 27 de julho entrou no calendário nacional desde 1998 como o Dia do Motociclista, um dos modais mais polêmicos das duas últimas décadas. Não é pra menos. Em Pernambuco, nos últimos dez anos, a motocicleta deixou de ser uma mera coadjuvante no trânsito das cidades pernambucanas para se tornar protagonista. De acordo com dados do Departamento de Trânsito de Pernambuco (Detran-PE), entre 2009 e 2019, a frota de motos no estado cresceu 110%, quase atingindo a quantidade de carros registrados em Pernambuco, que aumentou 64% nesse mesmo período de 10 anos. No entanto, as políticas públicas de gestão do trânsito não têm acompanhado esse crescimento vertiginoso das duas rodas. Essa negligência, para especialistas em mobilidade, pode ser sentida nos ainda chocantes índices de motociclistas vítimas do trânsito. 

“A moto em si não é um problema, porque ela não inerentemente perigosa. O que mata é o trânsito. Se você tem uma cidade com um trânsito desorganizado, cujas velocidades não são respeitadas, que após às 22h os radares são desligados, cria-se nos condutores uma cultura de velocidade, que impacta nos mais fracos. E a moto, assim como a bicicleta, é um modal mais vulnerável, sobretudo se a comparamos com o carro particular”, afirma o urbanista especialista em mobilidade, Pedro Guedes. Para ele, a mensagem que o trânsito passa para o motociclista é de que ele pode fazer o que quer e que não existe a fiscalização que deveria. Não é raro vermos motos circulando na contramão, em cima das calçadas, sem capacete e com mais pessoas “na garupa” do que o permitido. 

“Entorno da motocicleta existe muito preconceito e estigma. Sabemos que o motociclista, em muitos casos, é o usuário do ônibus que migrou para o transporte individual. Muitos são de baixa renda, sem acesso à informação, guiando um veículo motorizado de alta potência sem tanta condição no espaço urbano. É impossível não ter um grande número de acidentes de motos em uma cidade que não abraça os diversos atores do trânsito e não tem políticas eficientes de segurança no trânsito. E isso se faz como? Com velocidades mais baixas, democratização do espaço urbano e melhor gestão do trânsito. O motociclista é uma das vítimas da falta de gestão dos trânsitos municipais”, defende Guedes. Em muitas cidades, sobretudo no interior do estado, o trânsito sequer é municipalizado. 

O urbanista lembra que em vários lugares do mundo a motocicleta vem sendo incentivada por ocupar menos espaço nas ruas e ter uma taxa de ocupação interna, por ser transporte individual, semelhante a do carro de passeio. 

Apesar dos altos índices de acidente e das ainda incipientes políticas públicas no setor, o Comitê estadual de Prevenção a Acidentes de Moto (Cepam) diz que o número de acidentados e mortos vítimas do trânsito na motocicleta vêm diminuindo. Entre janeiro e abril deste ano, houve redução de 16% do número de acidentados e de 18% de óbitos, se comparados com os dados do mesmo período do ano passado. “Essa redução se deve à estratégia de fiscalização da Lei Seca, que é o braço operacional do Cepam. O Comitê, junto com a vigilância da Secretaria de Saúde (SES-PE), faz o georreferenciamento dos pontos e horários onde têm mais acidentes e as equipes da Lei Seca fazem a fiscalização nesses locais”, diz o coordenador de Educação do Cepam, Hélio Calábria. Segundo ele, ingestão de bebida alcoólica e imprudência são as principais causas de acidentes de moto. O Cepam, junto com o projeto Moto Amiga, da Honda, também oferece cursos de pilotagem defensiva e reciclagem em toda a Região Metropolitana do Recife (RMR) e cidades do interior, como Caruaru e Ouricuri. 

O urbanista especialista em mobilidade, Pedro Guedes, ressalta ainda que o crescimento da frota de moto em Pernambuco é um sintoma que o sistema de transporte público, incluindo as integrações, não estão funcionando. “O aumento da frota em si não chega a ser um parâmetro para concluir sobre acidentes. Mas ela traz outros indicadores. Para sim, significa que o usuário que precisa se deslocar e não quer sofrer nas integrações mas ao mesmo tempo não tem dinheiro pra pegar dois ou quatro ônibus, se ele puder, ele vai comprar uma moto. Porque ele quer resolver os problemas de mobilidade dele. E se os governos não oferecem condições adequadas no sistema público, o cidadão vai se virar sozinho”, conclui. 

FROTA EM NÚMEROS

2009
Motocicletas - 540,3 mil
Carros - 846,3 mil

2019
Motocicletas - 1.134 milhão
Carros - 1.374 milhão

Percentual de crescimento das frotas em 10 anos
Motocicletas - 110%
Carros - 64% 

Evolução do número de acidentes (entre jan e abr)
2016 - 8,4 mil
2017 - 10,3 mil
2018 - 9,7 mil
2019 - 8 mil

Evolução do número de óbitos (entre jan e abr)
2016 - 310
2017 - 297
2018 - 250
2019 - 204

Fonte: Cepam/PE.

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