Imagine viver em uma época em que não havia muito trânsito, já que as pessoas usavam mais o transporte coletivo. O ônibus está presente no Brasil desde o início da década de 1920. Chamados de autobondes, os primeiros veículos eram elétricos e abertos, levando até autoridades. Esse transporte passou por várias evoluções, mas quem viveu naquele tempo, guarda até hoje a memória de ter andado nos primeiros coletivos.
O casal de publicitários Sara Rangel e Mateus Alves, ambos com 31 anos, teve a oportunidade de resgatar a sensação de estar naquela época, só que dessa vez transformando o veículo em um estabelecimento comercial. “A gente sempre visitou cafeterias e tínhamos vontade de criar um cantinho com a nossa cara, mas algo que fugisse do padrão”, conta Sara. Os publicitários já tinham ido a um festival conhecido no Chile, o Lollapalooza, e se depararam com um café dentro de uma Kombi.
A primeira experiência foi em 2014 com o Neblina Café, um espaço fixo no tradicional Festival de Inverno de Garanhuns. Circulando pelas estradas, o casal se apaixonou pelo modelo O-364 1982, que estava parado, e decidiram mudar para o nome para Clandestino Café. “Foi amor à primeira vista. Tínhamos outro ônibus do mesmo modelo, e coincidentemente era do mesmo dono, mas trocamos por esse porque além de ser bonito, ter um aspecto ‘retrô’ e estar mais conservado, ele tinha uma história por trás, já que ele pertencia ao Exército Brasileiro”, explica.
Das ideias colocadas no papel à reparação da mecânica, toda a transformação da parte interna, burocracia para registrar o veículo, até os toques finais do Clandestino Café, durou um longo processo. O ônibus ficou quase um ano na oficina até ficar pronto.
Além de oferecer cafés, a ideia do estabelecimento móvel é agregar arte em um ambiente aconchegante. “Esse é um espaço para quem gosta de desenhar, recitar uma poesia, tocar uma música. O Clandestino (Café) é uma fábrica de poesia”, conta Sara.
Internamente, o veículo foi desenhado por arquitetos e os móveis por um designer. De um lado, bancos de ferro acochoados com lona de caminhão junto com uma mesa de madeira que comporta quatro pessoas. Do outro, um balcão de madeira com bancos pequenos, além de duas poltronas de balanço feitas de couro atrás do volante. A estudante Luana Thereza, 18, ficou surpresa com a estrutura. “É muito diferente, a gente não vê isso por aqui”, conta.
O teto ganha uma técnica do grafite, o lambe-lambe, com desenhos feitos pelo proprietário Matheus Alves. O piso foi restaurado, mas mantém a identidade original do ônibus, sendo de chapa de alumínio. O painel e o volante foram mantidos, mas receberam uma decoração com um cacto. O Clandestino Café está localizado no Museu do Estado e funciona de quarta a sábado das 15h às 21h. Já aos domingos, o café abre das 15h às 20h.
MECÂNICA
O ônibus de 1982 possui um motor diesel OM-355/5 com potência de 170 cavalos O consumo é de 3 a 5 km/l. O veículo chega a 73,5 km/h na 5º marcha.