Paixão nacional, os carros têm grande espaço na vida de muitos brasileiros. Os antigos pedem atenção redobrada e, no Recife, é ainda mais complicado zelar por esses verdadeiros xodós. Por um motivo: as oficinas especializadas não existem, raras conseguem realizar serviços nesse segmento, mas mesmo assim não são exclusivas para o mercado. Por isso a dica é dedicar-se à manutenção preventiva para conservar o seu veículo.
Para Fernando Mirada, presidente do Clube de Automóveis Antigos de Pernambuco (Caape), os pequenos detalhes fazem toda diferença. “No seu antigo, você precisa colocar silicone nas partes cromadas para evitar ferrugem e nas borrachas, para impedir o ressecamento”, ensina. Também é importante ficar de olho na gasolina. “Se esquecer e não movimentar o seu carro, pode apodrecer e entupir o tanque”, alerta Fernando.
Manter um veículo em bom estado dá trabalho. É preciso aspirar, lavar, secar, passar cera e até hidratar os bancos de couro do automóvel. Há proprietários que são verdadeiros exemplos em matéria de cuidados. O funcionário público Luciano Luiz, 41 anos, mais conhecido entre os colecionadores como Donga. Proprietário de um Dodge Dart Deluxe (1979) há 10 anos, ele explica o que faz para manter o carro “novo”. “Já tive oito antigos, mas não tinha lugar para guardar. Deixava um na casa de um vizinho, outro na de um parente e onde tivesse espaço para não pegar sol, chuva, poeira e nem sereno, pois tudo isso danifica a pintura. Hoje, eu só tenho esse”.
Os cuidados são diferentes dos carros mais modernos, mas não tanto: é importante trocar o óleo, checar os freios, estar atento aos pneus e motor. Para Luciano, usar produtos de boa procedência é imprescindível. “Tudo o que coloco é de boa qualidade e não sai tão caro. Até os filtros de óleo e ar tenho que importar dos Estados Unidos, onde ainda fabricam peças feitas para esse modelo”, explica.
Encontrar uma peça para reposição não é uma tarefa fácil. Essa pode ser uma das maiores dificuldades que o colecionador pode enfrentar. “Trago muita coisa de fora, mas consigo encontrar peças similares. Tem uns carros aqui que também usam as mesmas peças que o Dodge, como a caminhonete Chevrolet D20”.
Como item de coleção, esses automóveis costumam ficar mais estacionados, mas fique atento: é aconselhável que você dirija o seu veículo pelo menos uma vez por semana para colaborar com a vida útil, para o óleo e a água circularem, além de motor, pneus, rolamentos e câmbio. Você pode realizar algumas atividades diárias com o possante, como ir ao mercado ou fazer pagamentos. Afinal, depois de tanto trabalho é bom pelo menos curtir o carro.
O Dodge Dart Deluxe (1979) tem ar-condicionado, direção hidráulica e toca-fitas de fábrica. “Tudo funciona, tem esse detalhe, não adianta ser de enfeite. Eu amo rodar com ele e viajo mesmo”, vibra.
no mato
Luciano Luiz se apaixonou pelo seu carro atual há 15 anos, quando viu o carro pela primeira vez, em Moreno, e revela: “foi paixão à primeira vista”. “Fui para um churrasco, no meio dos matos, quando rodei encontrei o carro guardadinho”, conta Luciano, que possuía na época um Dodge Dart Deluxe 1979 azul, mas o vermelho lhe chamou atenção. O então proprietário não tinha interesse em vender. “Eu insisti muito, até que ele me pediu para não ligar mais”, lamenta.
Quase dois anos depois, eles se reencontraram no Recife. “O dono fez a proposta para que comprasse o carro por R$ 1.200, mas com uma condição: tinha que levar os outros. Foram dois Dodges e uma Maverick, só que todos estavam desmontados”, lembra.