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Peugeot 2008: A jogada do leão

Com mais acertos do que erros, a Peugeot quer entrar na garagem dos SUV's compactos com estilo


postado em 27/07/2015 11:52

Um jogo de xadrez. Assim podem ser analisadas as estratégias que as montadoras lançam no concorrido mercado brasileiro. Nenhum passo é dado em vão, nenhum carro é lançado ao acaso e detalhes nem sempre (ou quase nunca) são apenas detalhes. Melhor exemplo desse tabuleiro armado pelas marcas pode ser visto no segmento dos utilitários esportivos compactos.

Visual ousado faz o 2008 se destacar no segmento dos SUV's(foto: Bruno Vasconcelos/DP/DA PRESS)
Visual ousado faz o 2008 se destacar no segmento dos SUV's (foto: Bruno Vasconcelos/DP/DA PRESS)


Quem moveu a primeira peça no país foi a Ford com o Ecosport em 2003. As rivais pareciam não acreditar naquele movimento ousado e preferiram esperar para ver se a jogada norte-americana seria apenas um blefe. Não foi. Foram anos de soberania do oval azul no segmento até os franceses decidiram entrar no jogo com o Duster. O jipinho da Renault aproveitou o vácuo deixado na mudança de geração do Ecosport e passou vários meses na liderança.

Vendo que o tabuleiro tinha espaço para muito mais peças, as outras montadoras trataram de montar estratégias para disputar a partida. Mas para isso precisavam inovar. Ecosport e Duster pareciam satisfazer as necessidades que o segmento pedia. A principal delas: entregar um carro que pode ser usado no dia a dia sem ocupar tanto espaço no trânsito e ainda levar a família para um passeio na praia ou na fazenda.

Contra-ataque
A diferenciação das peças no tabuleiro está nos detalhes (aqueles que quase nunca são apenas detalhes). A Peugeot lançou o 2008 no mesmo momento em que Honda e Jeep lançaram, respectivamente, HR-V e Renegade. Como os franceses poderiam se destacar entre concorrentes superbadalados e candidatos a líderes do segmento? Afinal, a marca do leão não tem o mesmo carisma que a Honda tem no país, tampouco o DNA aventureiro da Jeep.

A jogada de mestre da Peugeot atenderia por três letras: THP. O motor turbinado de origem alemã nasceu da parceria entre o grupo PSA (Peugeot-Citroën) e a BMW. Superpremiado, o propulsor de 1.6 litro equipa diversos modelos das três marcas e se destaca pela eficiência no consumo e na entrega de muita potência e torque. Agora que virou flex, o THP passou a gerar até 173 cv e 24,5 kgfm. Números mais do que suficientes para puxar um crossover que pesa pouco mais de uma tonelada.

Destaque da traseira são as lanternas com LEDs (foto: Bruno Vasconcelos/DP/DA PRESS)
Destaque da traseira são as lanternas com LEDs (foto: Bruno Vasconcelos/DP/DA PRESS)


Errada
A jogada do leão tinha tudo para ser de mestre não fosse um "detalhe". A marca não oferece opção de cambio automático para a versão Griffe puxada pelo THP. Isso mesmo. Um utilitário essencialmente urbano que custa quase R$ 80 mil e com pedal de embreagem. Para levar o 2008 com transmissão automática de 4 velocidades (bem ultrapassada, por sinal) é preciso abrir mão do THP e comprar uma das versões puxadas pelo 1.6 aspirado de 122 cv de potência. São 50 cv a menos que tiram a diversão do carro.

A Peugeot deveria aproveitar o marketing que o THP agrega naturalmente aos carros que ele puxa e meter um câmbio automático de oito velocidades - o mesmo que a BMW casa com o THP no Série 1. Nenhum concorrente teria nada parecido para enfrenta

Acertos apesar do câmbio

Tirando o mico inexplicável do THP manual - algo que a Peugeot deve corrigir nos próximos meses -, o 2008 tem todos os atributos para vender bem. Testamos a versão top com THP na estrada e na cidade. Incrível como o jipinho francês faz curva como se fosse um hatch rebaixado. Lembra muito o desempenho do pequeno 208 que testamos há alguns meses. Nenhum outro hatch compacto faz curvas como o 208 e o 2008 tem a mesma dinâmica. Isso deve ser explicado pelo fato de os dois dividirem a mesma plataforma.

A performance do motor THP já é bem conhecida. Nem mesmo o burocrático câmbio manual de seis velocidades conseguiu tirar a diversão do propulsor turbinado. Na estrada, aliás, você até esquece de que o carro tem embreagem. A sexta engrenagem é tão longa que praticamente não é necessário mudar de marcha. O motor consegue entregar potência na última marcha até para se fazer uma boa retomada para uma ultrapassagem. O consumo na estrada ficou em 11,9 km/l e na cidade 10,8 km/l, sempre com gasolina.

Acabamento premium é um dos destaques do jipinho francês (foto: Peugeot/Divulgacao)
Acabamento premium é um dos destaques do jipinho francês (foto: Peugeot/Divulgacao)


O 2008 também dá um show no nível de acabamento no interior e na disponibilidade de tecnologia. Os sensores de estacionamento dianteiros e traseiros facilitam a vida do condutor. Outros destaques são o volante pequeno herdado do 208, o sistema de som de alta qualidade e o generoso teto panorâmico. Mimos que os rivais só entregam em versão mais caras.

São muitos os atributos para o 2008 não ser renegado dentro do segmento. Basta a Peugeot corrigir alguns "detalhes" na estratégia. Ainda dá tempo.

 

 

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