De Araxá (MG)* - O 23ª Encontro Nacional de Automóveis Antigos, organizado pelo Instituto Cultural Veteran Car de Minas Gerais, reuniu cerca de 300 veículos em Araxá nesse feriado de Independência. Além dos veículos mais raros e valiosos, a premiação conta a história do automóvel desde seus primórdios, como o Ford T de 1908, ano de lançamento do modelo, que mantém os faróis de carbureto. Mas quem levou o prêmio mais importante, o Troféu Roberto Lee, foi um Packard Roadster 1931. Com “pegada” esportiva (ok, para a época!), ele se destacava dos demais modelos da marca de luxo americana, que eram mais sisudos.
Já o troféu da Federação Brasileira de Veículos Antigos foi entregue ao Rolls-Royce Silver Wraith 1953, que, além de luxuoso, tem linhas muito sensuais para um veículo da marca inglesa. O troféu Og Pozzoli, que premia a originalidade, foi para o Cadillac 314 Coupé 1927, veículo que nunca foi restaurado. Essa nova premiação é uma homenagem ao colecionador que lhe empresta o nome, um dos precursores do antigomobilismo no Brasil que morreu no final do ano passado. Todo seu acervo foi adquirido pela empresária Lia Maria Aguiar, que possui uma fundação com fins educativos. Ela aproveitou o evento para anunciar a construção de um museu de automóveis antigos em Campos do Jordão, que ainda vai contar com uma escola de restauração. A previsão é que o museu fique pronto em 2020.
Em 2018 a Renault completa 120 anos de “vida”, 20 deles fabricando veículos no Brasil. Para contar um pouco de sua história, a marca francesa patrocinou o evento e levou parte de seu acervo, como uma réplica do pequeno Voiturette, seu primeiro veículo fabricado. Modelos como o Dauphine e o Interlagos, que aqui foram produzidos sob licença da Willys, eram projetos da marca francesa e não deixam de ser um registro de que, indiretamente, eles estavam aqui a mais tempo. O Renault Torpedo de um expositor foi premiado, se destacando pela colocação do radiador na traseira para melhorar a aerodinâmica do cupê.
Os veículos nacionais também foram lembrados. Um Karmann Ghia conversível 1970 ganhou o Troféu Fábio Steinbruch, que premia os esportivos nacionais. No Brasil foram feitas apenas 172 unidades dessa carroceria, sendo a unidade premiada a número 154. Um Puma GTE 1963 também chamou a atenção, com lentes translúcidas nos faróis e retrovisor cromado posicionado mais à frente que o convencional.
Outro nacional premiado foi um impecável Santa Matilde 1986, com design assinado por uma mulher, a arquiteta Ana Lídia. Outro destaque foi uma VW Kombi 1960 modelo Turismo. Preparada para acampamentos, com toldos, cadeiras e até reservatório de água, esta versão podia ser encomendada na própria concessionaria da marca, mas a adaptação era terceirizada.
Modelos da Volkswagen a que estamos familiarizados, só que mais antigos, trazem detalhes interessantes. A Kombi 1950 não tem janela, e a enorme tampa do motor abriga o tanque de combustível e o estepe bem acima do motor, uma mistura perigosa! Em 1951, o Fusca não tinha o prático quebra vento, mas uma abertura batizada de “gela saco” captava o ar de fora e o trazia para refrescar o interior do veículo. Outras características do modelo: janela traseira split, seta “bananinha” e caixa de ferramentas original.
O Chevrolet Corvette 1954 nasceu da demanda dos soldados americanos que voltaram da Segunda Guerra Mundial apaixonados pelos esportivos europeus, que a América simplesmente não tinha. Maior e equipado com motor V8, o Thunderbird 1956 foi a respostada da Ford ao Corvette.
Dois modelos da General Motors, o sofisticado Cadillac 1956 e um “humilde” Chevrolet Belair 1956, revelam que naquele mercado o design estava disponível para todos. Dentro dessa linha, é possível ficar horas admirando cada detalhe do Mercury Montclair Touring 1958.
Um dos raros modelos em que a carroceria cupê chama mais a atenção que a conversível é o Mercedes-Benz 300 SL. Foram premiadas duas unidades da Asa de Gaivota, uma de 1956 (verde) e outra 1955 (vermelha), e um roadster 1957.
O encontro também permitiu comparar dois Cadillacs 1941, um verde que segue a tendência de ser bem preservado, porém com as marcas do tempo, e um preto impecavelmente restaurado. Este foi o ano em que a grade do modelo foi horizontalizada, lançando tendência.
Uma curiosa unidade do Porsche 912 1968 – que era a versão de entrada da primeira geração do lendário 911 – também foi premiada no evento, caracterizado pelo motor 1.6 de 4 cilindros com 90cv de potência. Na mesma linha de curiosidades, foi apenas em 1963 que o Corvette saiu com vidro traseiro tipo split. No estilo woody, o Chrysler Town and Country 1947 tem carroceria em madeira, tipo de trabalho artesanal que já é difícil de ser encontrado.
O Fiat Zagato 1951 tem projeto assinado pelo italiano Ugo Zagato, mas o veículo é ainda mais raro porque foi construído pela Riva, um estaleiro de barcos.
A cerimônia de premiação contou com um desfile de Ferraris, ao todo foram 38 no evento, finalizada com a entrada das icônicas F40 e F50.
Dois modelos da americana Nash Motors foram premiados. O Nash 600 1946 é um cupê raro, já que a maioria das carrocerias importadas eram de quatro portas. O sempre curioso Nash Rambler 1952 chama a atenção por não ter caixas de roda.
Veículos para as pistas em dois tempos: o Amilcar 1920 é um monoposto francês; já o Allard 1948 é um veículo inglês com carroceria de alumínio que usava os motorzões americanos.
O Cord Phaeton 1937 foi trazido novinho para o Brasil e, além do design elegante, se destaca pelo câmbio eletro-hidráulico, tecnologia complexa e avançada.
* A convite da Renault