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Dakar 2022: confira os segredos de cada marca para enfrentar a competição

Tecnologias usadas nos modelos que enfrentam as areias do deserto durante o rali mais difícil do mundo são incorporadas pelas motos do dia a dia


postado em 24/01/2022 17:22

Sam Sunderland, com a GasGas 450 Rally(foto: Gas Gas/Divulgação)
Sam Sunderland, com a GasGas 450 Rally (foto: Gas Gas/Divulgação)
A 44ª edição do Rally Dakar foi disputada inteiramente na Arábia Saudita, entre os dias 1º e 14 de janeiro de 2022. Foram 8.375 quilômetros no total, com 4.258 quilômetros de especiais contra o relógio, divididos em 12 etapas com largada e chegada em Jeddah. Foram 149 motos inscritas em várias subcategorias, limitadas a 450cm³ de cilindrada. A principal delas, Elite, caracterizada pelo “number plate” amarelo, foi vencida pelo piloto britânico Sam Sunderland com a motocicleta GasGas 450.Rally Factory. De 2009 a 2019 o Rally foi disputado na América do Sul, com roteiro passando em países como Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Peru, incluindo temidos trechos de desertos como o Atacama um dos mais quentes e secos do mundo. Apesar de vizinho, o Brasil ficou de fora. Em 2020, a prova vai para a Arábia Saudita, onde permanece, mantendo o nome Dakar, que se transformou em uma marca.

A mudança da África para a América do Sul trouxe outros desafios para os fabricantes e pilotos. O regulamento limitou o motor das motos para até 450cm³, por questões de segurança. A alteração, além do aumento na segurança, permitiu a entrada de novas marcas de motocicletas, deixando a disputa ainda mais interessante. A Honda decidiu voltar à disputa em 2013, depois de participar oficialmente entre 1981 e 1989, com cinco vitórias. O modelo base escolhido foi exatamente a CRF 450X de série. O desenvolvimento da moto para a competição, com o batismo de CRF 450 Rally, contou com a participação do piloto brasileiro de Minas Gerais, Felipe Zanol, membro da Categoria Elite Mundial e titular do time HRC, Honda Racing Corporation.

A marca só conseguiria vencer em 2020, com o piloto americano Ricky Brabec, repetindo a dose em 2021 com o argentino Kevin Benavides. Atualmente cerca de 10 marcas competem oficialmente, além dos pilotos independentes com diversos modelos e marcas. O regulamento para as motos, exige que os modelos tenham reservatório para água potável. O combustível deve ser no máximo 34 litros, normalmente acondicionado em tanques laterais traseiros, central e inferiores. Durante o reabastecimento é proibida qualquer manutenção. Só é permitido utilizar seis pneus traseiros durante todo o Dakar. A planilha digital (road book) só é liberada 20 minutos antes da largada. Os pilotos contam com um sinalizador eletrônico que indica sua localização em caso de emergência e necessidade de resgate. Os pilotos também são obrigados a reduzir a velocidade em trechos de risco, sujeitos a penalização eletrônica em tempo. Os capacetes devem pesar no mínimo 1,1kg. Os extremamente leves reduziam a segurança. Os pilotos também são obrigados a utilizar um casaco com sistema de airbag.

GASGAS
A marca espanhola nasceu em meados da década de 1980, através dos pilotos Narcis Casas e Josep Pibernat. Curiosamente, o nome GasGas vem da expressão de incentivo espanhola. “Vamos! Gas a fondo… Gas Gaaaas!!!”, simplificada para GasGas, ou para o “endurês” enrola o cabo. No final de 2019 foi incorporada pelo Pierer Mobility Group, que também controla a austríaca KTM e a sueca Husqvarna. O intercâmbio promoveu um grande salto tecnológico, culminando com a vitória no Dakar 2022. O motor de um cilindro, do tipo SOHC (comando simples no cabeçote) com 449cm³, tem válvulas de admissão em titânio. A potência ultrapassa os 60cv, incluindo controle de tração e escapamento Akrapovic. A refrigeração é líquida, com reforço de radiador de óleo com duas bombas. O quadro é tubos de aço, alumínio e reforço de fibra de carbono no sub-quadro em função do maior peso.Também recebe uma proteção de motor mais envolvente. A embreagem multi-disco, com acionamento hidráulico também tem maior capacidade. A suspensão dianteira é WP XACT Pro, com tubos de 48mm de diâmetro e 305mm de curso. A suspensão traseira é mono WP XACT, com 305mm. Ambas são totalmente ajustáveis.

Pablo Quintanilha, com a Honda CRF 450 Rally(foto: Honda/Divulgação)
Pablo Quintanilha, com a Honda CRF 450 Rally (foto: Honda/Divulgação)
HONDA A marca japonesa venceu as edições de 2020 e 2021. Em 2022 bateu na trave com o piloto chileno Pablo Quintanilha a bordo da CRF 450 Rally. O quadro é em dupla trave de alumínio, com sub-chassi em fibra de carbono, para suportar o peso do tanque de combustível extra. O protetor do cárter (peito de aço) é em fibra de carbono e abriga reservatório de 3 litros de água potável, exigidos pelo regulamento. Os tanques são de material plástico com reforço de fibra de carbono, mesmo material usado na carenagem. As pedaleiras são mais largas e a torre de navegação tem comandos nos punhos. O peso com 34 litros de combustível, óleo, líquido do radiador e água potável é de 160 quilos. O motor tem um cilindro, 449cm³, do tipo DOHC (duplo comando no cabeçote). A potência ultrapassa os 62cv, com embreagem FCC reforçada, câmbio de seis velocidades e o escape Termignoni. As rodas são DID DirtStar ST-X e os freios Nissin, com disco de 300mm na dianteira e 240mm na traseira. A suspensão dianteira Showa, tem tubos de 51mm de diâmetro e 310mm de curso. Na traseira, sistema mono,Showa, com 305mm de curso.

Danilo Petrucci, com a KTM 450 Rally(foto: KTM/Divulgação)
Danilo Petrucci, com a KTM 450 Rally (foto: KTM/Divulgação)
KTM A marca austríaca tirou o argentino vencedor de 2021, Kevin Benavides, do time Honda, para integrar sua esquadra. Porém, a surpresa foi a estreia do piloto italiano Danilo Petrucci, que veio do asfalto da MotoGP para as areias do deserto e até venceu uma especial. A KTM 450 Rally Factory, gerou o modelo KTM 450 Rally Réplica, com edição de 80 unidades para pilotos privados. A suspensão dianteira, tipo cartucho fechado, WP X-ACT, tem válvulas cônicas, 48mm de diâmetro e 305mm de curso. Na traseira, sistema mono com 300mm em balança de alumínio fundido. O quadro é em treliça com tubos em aço cromo-molibdênio. A carenagem é fina para melhorar a movimentação e a torre de navegação em fibra de carbono. O motor de um cilindro, 449,3cm³, tem comando SOHC (válvulas de admissão em titânio), arrefecimento líquido, escape Akrapovic, filtro TWIN AIR, câmbio de seis marchas e mais de 60cv de potência.

Joaquim Rodrigues, com a Hero 450 Rally(foto: Hero/Divulgação)
Joaquim Rodrigues, com a Hero 450 Rally (foto: Hero/Divulgação)
HERO A marca indiana Hero, nasceu em Nova Delhi em 1984 em associação com a Honda e atualmente e um dos maiores fabricantes mundiais, com mais de 100 milhões de unidades comercializadas. Contudo, em 2010, encerra a parceria com a Honda. Em 2022 participa pela sexta vez oficialmente do Rally Dakar, com o modelo Hero 450 Rally e conquista a primeira vitória de uma motocicleta indiana em etapas especiais da história da competição. O piloto português Joaquim Rodrigues vence a terceira especial, chega em terceiro na décima e termina o Rally na 13ª posição geral. O modelo Hero 450 Rally 2022, equipado com motor de um cilindro, arrefecido a líquido e escaáe Akrapovic, entrega cerca de 60cv. Seu posicionamento foi revisto, para rebaixar o centro de gravidade e melhorar a maneabilidade. O sistema de refrigeração também foi modernizado e as suspensões de longo curso.

Adrien Van Beverem, com a Yamaha WR 450F Rally(foto: Yamaha/Divulgação)
Adrien Van Beverem, com a Yamaha WR 450F Rally (foto: Yamaha/Divulgação)
YAMAHA O fabricante japonês, venceu o primeiro Paris-Dakar em 1978, já acumulou nove vitórias, mas, desde 1998, com a lenda Stephane Peterhansel, permanece em jejum. Em 2022 esteve com a taça na mão com o piloto francês Adrien Van Beverem, que era líder ao fim do estágio 10 de 12. O modelo WR (Wide Ratio, algo como biela longa) é derivado da YZ 450F de motocross, com motor do tipo quatro tempos. Porém, adaptada para mais torque nas práticas de rally e enduro. A marca também proporciona o modelo WR 450F Rally Replica, para pilotos privados. O motor, com potência superior a 60cv, tem um cilindro, 449cm³ equipado com partida elétrica (e pedal), embreagem Rekluse, que permite que o motor continue funcionando em caso de queda, quadro em alumínio tipo berço semi-duplo, suspensão dianteira com 310mm de curso e traseira mono com 318mm, escape Akrapovic, torre de navegação e iluminação em LED.

Sherco SEF 450 Rally(foto: Sherco/Divulgação)
Sherco SEF 450 Rally (foto: Sherco/Divulgação)
SHERCO A marca franco-espanhola Sherco é recente, fundada em 1998. O fabricante especializado em fora de estrada tem como lema, qualidade, atraindo consumidores de todo mundo, inclusive no Brasil. A disputa do Rally Dakar foi consequência natural. O modelo Sherco 450 SEF, foi remodelado em relação à versão anterior. A carenagem em material plástico foi refeita para melhorar a ergonomia de pilotagem. O motor de um cilindro e 449cm³ (com potência não revelada de cerca de 60cv), também é novo, assim como quadro em partes de liga leve e partes de aço cromo-molibdênio. O escapamento é Akrapovic, as suspensões são trabalhadas pela Bos Mac Racing e as rodas Excel. A bateria é BS (Íon lítio), filtro de ar Funnel Web, banco Selle dalla Valle e kit de transmissão AFAM com câmbio de seis marchas.

Rieju 450 Rally(foto: Rieju/Divulgação)
Rieju 450 Rally (foto: Rieju/Divulgação)
RIEJU O nome Rieju é a junção de Riera e Juanola, dos sócios Luis Riera Carré e Jaime Juanola Farres, que fundaram a marca em 1834 na Espanha. Em 1960, passam a produzir, sob licença, motores da italiana Minarelli. Em 2020, a marca adquire parte da plataforma intelectual e industrial da GasGas Enduro. Outra parte seria adquirida pela KTM. É o mais antigo fabricante espanhol na ativa. A ligação com a Minarelli, controlada pela Yamaha, possibilitou equipar os modelos Rieju 450 Rally com motorização baseada na WR 450 de um cilindro, com suspensões WP, White Power. O piloto boliviano Daniel Nosiglia (top 17, cujo pai foi terceiro no Dakar de 2015) foi inscrito na categoria Elite. A marca contou com a preparação das motos e apoio da equipe especializada FN Speed Team.

Fantic XEF 450 Rally(foto: Fantic/Divulgção)
Fantic XEF 450 Rally (foto: Fantic/Divulgção)
FANTIC A marca surgiu em 1968 em Brianza, Lombardia, província do norte da Itália de uma dissidência da Garelli. A marca se especializa no fora-de-estrada e entra nas competições. Porém, em 1998, fecha as portas para ressuscitar modernizada em 2003. Recentemente, a Fantic e a Yamaha Motor Europe, firmaram acordo para que a Minarelli assumisse, o projeto Dakar, também está ligado à Yamaha. A Fantic XEF 450 Rally tem motor baseado na WR 450 cm3, DOHC (duplo comando no cabeçote) de um cilindro, com inclinação negativa. Como característica do cilindro posicionado para trás, o único tanque de combustível de 30 litros foi alojado no centro. Para encaixar, o quadro em alumínio foi especialmente desenhado. As suspensões são Kayaba, com 310mm de curso na dianteira e 317mm na traseira e o escapamento Arrow-Fantic.

Husqvarna FR 450 Rally(foto: Husqvarna/Divulgação)
Husqvarna FR 450 Rally (foto: Husqvarna/Divulgação)
HUSQVARNA O modelo Husqvarna FR 450 Rally teve como um dos pilotos, o argentino Luciano Benavides irmão de Kevin Benavides da KTM, vencedor de 2021. As coincidências continuam, já que Husqvarna e KTM, pertencem ao mesmo grupo e contam com praticamente a mesma ficha técnica. A marca fundada na Suécia em 1689 inicialmente produzindo armas, tem como símbolo, uma mira de mosquete estilizada que permaneceu nas motos que vieram em 1903. Em 2013 Stefan Pierer incorpora a marca, que passa a integrar o Grupo Pierer Mobility Group junto com a KTM e a GasGas. Porém, a Husqvarna assume como marca premium do portfólio. A FR 450 Rally está equipada com suspensões WP, White Power, motor de um cilindro e 449cm³ arrefecido a líquido com cerca de 60cv, embreagem Rekluse, que deixa o motor em funcionamento mesmo depois de uma queda, escape Akrapovic, pneus Michelin, iluminação em LED e carenagens retrabalhadas.

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