Estado de Minas FOCO NO T5

JAC revê projeto de fábrica e só vê retomada do mercado em 2024

Em vez do J3, Grupo SHC assumirá operação integral voltada à produção do crossover T5 manual a partir do fim do ano. Para o presidente da marca, mercado brasileiro só retomará pico de vendas daqui a oito anos


postado em 29/02/2016 18:23 / atualizado em 29/02/2016 18:34

(foto: Pedro Cerqueira/EM/D.A Press)
(foto: Pedro Cerqueira/EM/D.A Press)
São Paulo (SP) – Representada no país pelo Grupo SHC, do empresário Sérgio Habib (ex-Citroën e Jaguar), a chinesa JAC confirmou durante o lançamento do T5 a revisão do projeto de construção da fábrica de Camaçari (BA). Devido à recessão econômica e a crescente queda nas venda de veículos novos, a instalação foi reduzida, deixou de ter a JAC chinesa como sócia e agora aguarda análise do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) para ser aprovada. Em vez de 100 mil carros/ano com investimento de R$ 1 bilhão, Habib optou por um projeto menor: 10 mil unidades anuais, demandando R$ 200 milhões – dos quais R$ 50 milhões, segundo ele, já foram aplicados nas áreas de engenharia e desenvolvimento de produto. O anúncio da construção foi feito ainda em 2011, ano de chegada da marca ao Brasil, com o início das obras de terraplanagem em 2013.

O carro que será produzido localmente também mudou. Não será mais a nova geração do J3 e a variação fora de estrada T3, mas sim o recém-lançado T5. A versão brasileira do crossover é prevista para ser lançada no primeiro semestre de 2017, com as primeiras unidades saindo da linha de montagem até o fim do ano, para homologação. De início só será fabricado o carro com câmbio manual. A opção automática, do tipo CVT e que cujas vendas começam em agosto, segue importada da China. Outros dois lançamentos foram abortados: o de uma van menor e mais simples que a T8, e a nova geração do caminhão pequeno T140, cujo primeiro lote de 500 unidades chegou a ser importado em dezembro de 2012.

Somente a JAC fechou mais de 30 concessionárias (chegou a ter 65) em meio à crise(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Somente a JAC fechou mais de 30 concessionárias (chegou a ter 65) em meio à crise (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
No entendimento de Habib, a operação reduzida dispensa a necessidade de participação direta da JAC chinesa na nova fábrica. A matriz agora só participará com suporte de financiamento ao Grupo SHC. “Para vender 10 mil carros/ano, é muito complicado ser sócio de uma estatal chinesa”, ironizou Habib. acrescentando que o projeto do novo J3 acabou substituído, no Brasil, pelo do T5. Para ser vendido no país, o crossover recebeu adaptações na suspensão, que ficou mais firme – “chinês gosta de suspensão macia”, diz o executivo –, e no sistema multimídia, cuja tela original de sete polegadas foi substituída por uma de oito, produzida pela Foxconn. “Por razões óbvias a imagem do Brasil na China está ruim. As empresas chinesas que investiram no Brasil estão perdendo dinheiro” alerta.

Sérgio Habib, ainda nos tempos em que representava a Citroën no Brasil(foto: Roberto Rolkster/Divulgação)
Sérgio Habib, ainda nos tempos em que representava a Citroën no Brasil (foto: Roberto Rolkster/Divulgação)
ACIMA DA INFLAÇÃO Habib mantém a previsão pessimista para o mercado local nos próximos anos, com números ainda mais alarmantes. Na visão do representante, o Brasil só recuperará o pico de vendas de veículos novos alcançado em 2012 (3,6 milhões de unidades), daqui a oito anos, em 2024. Considerada por ele como termômetro para medir o giro do mercado, a média de emplacamentos em dias úteis foi de 13,9 mil, há quatro anos, para 7,5 mil em janeiro e fevereiro deste ano. No ano passado foram emplacadas cerca de 2,4 milhões de unidades no Brasil, queda de 26% em relação à 2014. “O carro zero-quilômetro vai subir mais do que a inflação, porque o preço pedido pelas fábricas está represado. Só de carga tributária (ICMS, IPI, PIS/Cofins), são 32% embutidos. O preço dos carros novos não cobre as despesas fixas dos fabricantes”, afirma Habib. Somente a JAC fechou mais de 30 concessionárias (chegou a ter 65) desde o início das operações no país, em março de 2011.

A capacidade instalada das fábricas “não é problema”, uma vez que as montadoras conseguem financiamentos facilitados junto ao governo, mas a queda nas vendas reflete diretamente no varejo, com o fechamento e demissões na rede de concessionárias – 1.090 lojas ao todo no ano passado, de acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). O total de demissões supera as 36 mil, considerando apenas os números registrados junto às associações e juntas comerciais. Para esse ano, a expectativa do empresário é de que 1 mil a 1,5 mil distribuidores encerrem as atividades. “Onde mais machuca? No varejo. A rede tem um custo fixo gigantesco. Aí não tem jeito, tem de fechar.”

Caminhão leve T-140 é um dos produtos descartados no Brasil(foto: Paula Carolina/EM/D.A Press)
Caminhão leve T-140 é um dos produtos descartados no Brasil (foto: Paula Carolina/EM/D.A Press)
ATRASO DE GERAÇÕES Outro reflexo da queda das vendas será a atualização da linha de produtos, pondera Habib. “Os carros que estão sendo lançados agora são projetos decididos há dois, três anos ou mais. No Salão do Automóvel'2016 ainda teremos novidades, mas em 2018 não haverá nada. Tudo o que as montadoras puderem, elas adiarão o lançamento. Foi assim depois da crise de 2002. Entre os importados, a tendência é diminuição do volume das vendas”. A retração interna, conclui o representante da JAC, vai na contramão do mercado chinês, que emplaca 18 milhões de veículos novos/ano, dos quais 185 mil foram do T5, 3º SUV (embora esteja mais para crossover) mais vendido da China. “Nos próximos anos teremos no Brasil carros menores, com motores menores e calibrados para gastar menos”, conclui.

* O jornalista viajou a convite da JAC

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