Estado de Minas POLÍTICA FORA DA TOMADA

Brasil ignora novas tecnologias e híbridos e elétricos estão longe da realidade no país

Governo ainda discute forma de incentivo às novas tecnologias de propulsão, após redução parcial de imposto para modelos não plug-in. Mercado terá novidades, mas preço não ajuda


postado em 29/04/2015 08:28 / atualizado em 29/04/2015 08:46

Prius soma 429 unidades no Brasil e Toyota incentiva venda com preços fechados para revisão e troca da bateria(foto: Toyota/Divulgação)
Prius soma 429 unidades no Brasil e Toyota incentiva venda com preços fechados para revisão e troca da bateria (foto: Toyota/Divulgação)
 

 

Preço elevado é um choque ao consumidor que anseia por carros híbridos e elétricos no Brasil. No que depender de quem literalmente entrega a força para esses modelos invadirem as ruas, a bateria vai demorar até enfim carregar completamente. Depois de reduzir o imposto de importação de 35% para 0% a 7% nos híbridos até 3.0 e sem a recarga na tomada (plug-in), o governo encontra-se estacionado na definição de uma política de incentivo para as novas (e já realidade no primeiro mundo) tecnologias. Na contramão do apagão de mercado, pelo menos dois novos representantes deverão aportar no país até o segundo semestre.

Um deles é o A3 e-tron, verão híbrida do Audi A3. Equipado com dois motores, um 1.4 turbo de 150cv e outro elétrico de 102cv capazes de gerar potência combinada de 204cv e 35,7kgm de torque, o hatch tem autonomia de 50km no modo elétrico. Se a carga estiver no fim, pode-se usar o motor a gasolina para recarregá-lo ou plugá-lo em uma tomada convencional, o que o descredencia ao incentivo já existente. Mesmo caso do Outlander PHEV, versão híbrida do Mitsubishi e primeiro 4x4 com esse tipo de propulsão no Brasil. Previsto para ser lançado em breve, afirma a marca, o SUV traz motor 2.0 a gasolina de 145cv que só traciona as rodas quando a força dos dois motores elétricos não for suficiente. A autonomia é de 52km e na hora de recarregar a bateria são usados 3 litros de gasolina do motor principal, transformado em gerador. Preço: R$ 190 mil, ante os R$ 105.990 do Outlander 2.0 “normal”.

Entram na lista de carros já incentivados o Toyota Prius e o Lexus CT 200h. Mesmo com a redução de imposto de 35% em 4% para ambos, o valor pedido permanece bem acima dos equivalente a gasolina. O Toyota custava R$ 120.800 antes do incentivo, caiu para R$ 111 mil e hoje, com reajuste, custa R$ 114.350 – um Volkswagen Golf, a título de comparação como hatch médio, parte de R$ 73.800. Já o Lexus foi de 134 mil na versão Eco e R$ 154 mil na Luxury, para R$ 127 mil e R$ 145.950, respectivamente.

Com dois motores, Audi A3 e-tron pode ser carregado em tomada convencional(foto: Pedro Cerqueira/EM/D.A Press)
Com dois motores, Audi A3 e-tron pode ser carregado em tomada convencional (foto: Pedro Cerqueira/EM/D.A Press)


A mudança na taxação é considerada pela Toyota (que também detém a marca Lexus) um primeiro passo para a popularização deste mercado, mas a empresa ressalta que a carga tributária sobre esses modelos ainda é considerável. “No Brasil não há incentivos para compra deste tipo de carro. Além da redução de impostos federais sobre o produto, seriam necessárias algumas medidas que viabilizem o poder de atratividade de compra. Em regiões onde as vendas de veículos híbridos já se encontram consolidadas, como Japão, Europa e EUA, os respectivos governos promoveram os devidos incentivos tributários. Isso ajudou a popularizar a tecnologia híbrida, abrindo um novo mercado”, afirma a Toyota, em nota. A marca descarta planos de produção local do Prius. Desde que começou a ser importado em 2013, o híbrido mais vendido no mundo (4,7 milhões de unidades) emplacou apenas 429 carros no Brasil, a maioria para pessoas jurídicas (incluindo taxistas). Como incentivo, a Toyota passou a oferecer pacote de revisão com preços fechados e troca da bateria (vida útil de 10 anos) com valor fixo de R$ 9.900. O CT200h foi ainda mais discreto, com 31 unidades comercializada – quatro no primeiro bimestre de 2015.

Outro híbrido de sucesso lá fora, o Ford Fusion Hybrid (R$ 142 mil ante R$ 106 mil da versão de entrada, 2.5 a gasolina), não usufrui do benefício por ser importado do México, país que tem acordo comercial com o Brasil. Alegando “questões de competitividade”, a Ford não informa o total de unidades vendidas do modelo no Brasil, o percentual do imposto de importação, nem comenta a necessidade de incentivos. Entre os modelos sem qualquer incentivo há também o elétrico BMW i3 (R$ 225 mil), o híbrido i8 (R$ 799.950), o elétrico Renault Fluence e o híbrido Nissan Leaf, os três últimos vendidos sob encomenda. O Mercedes-Benz S400 Hybrid deixou de ser importado.

Vínculo industrial

 

O governo alega que trabalha no que chama de “desenho de fomento” para novas tecnologias de propulsão, estabelecendo incentivos necessários à criação de mercado e produção local de elétricos e híbridos. Três pontos estão sendo discutidos pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) com a indústria automobilística: avaliação do impacto energético com a introdução de veículos elétricos; modelagem e implantação do sistema de abastecimento (carregamento) dos elétricos; e análise de potencial de integração dos elétricos com as redes inteligentes de energia elétrica (Smart Grid). “Os custos dos veículos elétricos ainda são elevados e a alíquota do IPI é de 25%”, admite o MDIC, que se diz favorável à realização de estudos voltados à revisão da estrutura tributária, desde que vinculada a uma política industrial. O grande X da questão é que se, se não há incentivo para começar a vender os modelos no Brasil, as montadoras sequer cogitam produzi-los aqui.

Mitsubishi Outlander PHEV só usa motor 2.0 a gasolina em situação extrema(foto: Mitsubishi/Divulgação)
Mitsubishi Outlander PHEV só usa motor 2.0 a gasolina em situação extrema (foto: Mitsubishi/Divulgação)

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação