A Metalúrgica de Tubos de Precisão (MTP) de Guarulhos (SP) fechou as portas e demitiu na semana passada, por telegrama, todos os 770 funcionários. Parte deles está acampada nos portões da fábrica para impedir que o maquinário seja retirado. Os trabalhadores temem não receber salários atrasados e a rescisão e querem os equipamentos como garantia. O fechamento da MTP, fabricante de tubos para automóveis e motocicletas, ocorre num momento em que a crise das montadoras se espalha pelos demais segmentos da cadeia automotiva, especialmente o de autopeças.
O ano passado foi um dos piores para o setor, afirma o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), Paulo Butori. "Estamos sentindo que o movimento de queda (de empregos) permanece em janeiro", confirma o executivo.
Produtores de peças plásticas cortaram 3 mil postos de trabalho em 2014. "Foi a primeira vez que tivemos desemprego no setor no fechamento de um ano", afirma o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), Ricardo Roriz Coelho.
O setor emprega atualmente 357 mil pessoas e vende de 7% a 10% de sua produção para a indústria automobilística.
Esses cortes se somam às 12,4 mil demissões feitas pelas montadoras, que encerram 2014 com 144,6 mil empregados. Foi o maior número de dispensas em 16 anos.
A tendência é de continuidade de demissões neste ano, que começou com a Mercedes-Benz fechando 260 postos na fábrica de São Bernardo do Campo (SP) e a Volkswagen planejando um Programa de Demissão Voluntária (PDV) para quase 2,1 mil trabalhadores na mesma cidade, depois de reverter, após greve dos trabalhadores, 800 cortes anunciados no início do mês. A Ford é outra montadora que estuda abrir um PDV em São Bernardo.
Na segunda-feira, 27, os cerca de 500 funcionários da também fabricante de autopeças Karmann-Ghia paralisaram a produção por atrasos no pagamento, segundo informa o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Gestão
Na MTP, além da crise, "ocorreram sérios problemas de gestão", informa José Carlos Santos Oliveira, funcionário da empresa há 12 anos e diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos. Nenhum representante da empresa foi localizado ontem para comentar o assunto.
Segundo Oliveira, a empresa não pagou o adiantamento salarial previsto para o dia 15, só pagou metade do 13.º salário, não entregou vale-transporte e descontou pensão alimentícia mas não repassou aos beneficiários. A empresa teria entrado com pedido de recuperação judicial no dia 12 e aguardava aprovação, diz o sindicalista. Amanhã está marcada uma audiência entre as partes no Tribunal Regional do Trabalho (TRT).
A MTP, com duas unidades em Guarulhos, foi adquirida em 2012 do Grupo Brasil pelo grupo ILP Industrial, que na época comprou também a fabricante de componentes plásticos Vulcan, no Rio de Janeiro, e a Karmann-Ghia, de São Bernardo. Esta empresa foi revendida em julho do ano passado para o Grupo Nardini e passa por reestruturação.
Segundo Monica Marani, gestora da Karmann-Ghia, a empresa teve problemas em dezembro em razão da desaceleração de pedidos das montadoras e deve atualmente 35% da segunda parcela do 13º salário aos funcionários. "É um problema pontual. Vamos liquidar (a dívida) nesta semana", informa ela. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.